“Não podemos construir o que não podemos imaginar – de modo que tudo o que está construído precisou, antes, ser imaginado. E aí reside o poder das ficções”. J. Mombaça
“El industrial siempre trabaja, no para su placer ni para el de su mundo, de sus congéneres, de sus competidores naturales, sino para una sociedad diferente a la suya —a cargo de no importa qué reciprocidad—, de modo que su labor constituye una relación no social, casi antisocial con sus desemejantes con gran detrimento de sus reducidas relaciones con sus semejantes”. G. Tarde
Durante Março-Abril-Maio de 2023 realizaremos o curso “Teoria sociológica no “Tempo do fim”: aceleração, catástrofes socioambientais e controvérsias tecnocientíficas” na pós-graduação de Sociologia da FESP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo).
A disciplina pretende oferecer uma abordagem contemporânea, crítica e ampliada que percorra a relação entre o pensamento sociológico e algumas dimensões que hoje atravessam a reflexão socioambiental. Daremos especial ênfase ao tema das emergências, catástrofes e colapsos que entrelaçam controvérsias tecnológicas, distribuição racializada e desigual de riscos, assim como fenômenos ambientais/ecológicos que hoje compõem a problemática do Antropoceno e uma das suas variantes, o Tecnoceno. O curso propõe uma reflexão sobre a relação entre democracia e prática científica no “tempo do fim” da crise climática, também convidando a imaginação sociológica para pensar e especular a partir de algumas produções audiovisuais de ficção científica contemporâneas de grande circulação. Com o curso, pretendemos ampliar o diálogo da sociologia com outras disciplinas como a geografia, a filosofia política, a ecologia e a antropologia. Retomaremos alguns dos debates inaugurais da disciplina, agora à luz da crise socioambiental e técnica, como aquele que atravessa dualidade indivíduo e sociedade, a formação de grandes cidades e como a forma metrópole altera as relações da socialidade humana com infraestruturas e tecnologias, mas também a relação do humano com o sistema Terra; a relação entre socius e escalabilidade; as visões otimistas (e outras nem tanto) sobre o progresso, economias do risco e o paradigma da sociedade industrial da produção.
Por último, pretendemos elaborar uma abordagem crítica em relação aos paradigmas civilizatórios do desenvolvimento e do progresso pensando algumas especificidades, conflitos e assimetrias desde o mundo “pós-colonial”.
Tópicos:
. “O tempo do fim”, a Grande aceleração, a Era Nuclear e a “A Coragem De Ter Medo”
. Sociologia como prática especulativa e a “perda do mundo” (Retomar G. Tarde e Du Bois)
. Desastres ambientais/tecnológicos e a “sociedade de risco”
. O fim da velha distinção humanista entre história natural e história humana
. O humano como força geológica e a divisão natureza-cultura
. O Tempo das Catástrofes, a intrusão de Gaia versus a intrusão Ayiti
. “O mito de Megalópolis”: a grande cidade e seus tentáculos
. “Capitalismo de desastre” e “Capitalismo Petrosexorracial”
. Controvérsias tecnológicas, impactos, escalabilidade e o Tecnoceno
. Modernização, progresso e desenvolvimento: heranças da “ciência da plantation”
. Políticas da Natureza? Ciência, Democracia e outras formas do político
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